DHL recebe VP global de compliance no Brasil
Em entrevista ao GMN, Dra. Sofia Halfmann explicou a contribuição das políticas de compliance para empresas e países
A DHL Global Forwarding recebeu, na semana passada, a vice-presidente global de compliance, Sofia Halfmann, que falou em evento fechado da DHL sob o tema “Compliance nos negócios”, com especial destaque para a área de logística.
Em entrevista exclusiva para o Guia Marítimo, Dra. Sofia Halfmann disse acreditar no Brasil e reconhecer o país como um player essencial no cenário do comércio internacional. Ela entende que, apesar da crise política e econômica por que vem passando o País, se as empresas e os governos mantiverem o alinhamento com que vêm lutando contra a corrupção, os resultados serão positivos, não apenas no Brasil, como também no mundo todo.
Dra. Halfmann disse acreditar que a iniciativa de controle de qualidade e compliance por parte do setor privado tem muito a contribuir para a esfera pública, eliminando as más práticas e implementando novos padrões que disseminem a cultura ética em todas as esferas. Apesar disso, em termos comerciais, ela defende que as empresas mantenham práticas flexíveis sempre que estas não impedirem a aplicação dos conceitos éticos e pertinentes às normas de compliance.
Sofia Halfmann é responsável pelo programa mundial de conformidade da DHL Global Forwarding, incluindo o desenvolvimento, implantação, avaliação de riscos, além de monitoramento e auditoria das atividades de modo a contribuir para a atividade da empresa do ponto de vista comercial do controle de conformidade. Advogada e doutora com formação na Alemanha, Dra. Sofia Halfmann tem mais de 20 anos de experiência em direito e participa de uma série de fóruns e associações da indústria, nas quais ministra palestras e oficinas sobre ética e padrões de conformidade.
GM_ Qual tem sido a repercussão e a imagem do Brasil no exterior, com relação ao nosso recente impeachment e as investigações de corrupção?
SH_ A DHL acredita muito no Brasil e reconhece o país como um player essencial no cenário do comércio internacional. A DHL se empenha em conduzir seus negócios de maneira compatível com todos os nossos clientes, fornecedores e parceiros de negócios estratégicos e pratica uma política de tolerância zero quando se trata de práticas comerciais ilegais.
GM_ Qual foi o impacto desse cenário para as empresas e as transações comerciais que envolvem o Brasil e a América do Sul?
No curto prazo, não vemos qualquer impacto direto sobre os negócios da DHL. O ambiente econômico é o propulsor direto das atividades de negócios. Em longo prazo, acreditamos que os padrões mais elevados de compliance exercerão uma influência positiva sobre o comércio e incentivarão a todas as corporações, empresários e consumidores a fazer negócios com o Brasil.
GM_ De que maneira isso afeta as políticas de conformidade em empresas internacionais, tais como a DHL?
SH_O compliance não é uma preocupação apenas no Brasil, mas sim em todo o mundo. Muitos países estão investindo mais na aplicação do compliance e na criação de leis e regulamentos mais rigorosos. Acompanhamos também algumas ações multilaterais. O grupo Deutsche Post DHL é signatário do Pacto Global da ONU e respeita seus dez princípios sobre direitos humanos, trabalho, meio ambiente e combate à corrupção. Como membro do PACI (Partnering Against Corruption Initiative), uma iniciativa do Fórum Econômico Mundial, o grupo Deutsche Post DHL desempenha um papel ativo na luta estratégica contra a corrupção. De modo geral, temos notado maior alinhamento global na luta contra a corrupção e o exemplo brasileiro nos ajudou a mostrar, mais uma vez, que a recompensa pela prevenção desses tipos de eventos vale a pena.
GM_ De que maneira você acredita que a chamada cultura de compliance em empresas privadas pode ajudar a melhorar as políticas públicas no país?
SH_Eu tive a oportunidade de testemunhar várias contribuições significativas do setor privado para o apoio de políticas públicas. A primeira delas gira em torno de quebrar o ciclo - em essência, eliminando um possível corruptor de cada vez. A segunda é o estabelecimento de programas, ações e práticas que possam ser replicadas por outras empresas e entidades públicas. Neste caso, esse novo padrão de conformidade pode se tornar legalmente obrigatório ou, pelo menos, uma demanda amplamente difundida no mercado. A terceira é reforçar o compliance e a cultura ética de um modo geral e isso pode ser feito ao estimularmos as pessoas a terem diferentes pontos de vista e comportamentos ao fazer negócios.
GM_ O que acontece quando uma empresa esbarra em políticas públicas que impedem algumas ações relacionadas às suas políticas de compliance?
SH_A DHL Global Forwarding opera em mais de 100 países em todo o mundo. Portanto, estamos acostumados a lidar com diferentes jurisdições e regulamentos. Lidar com restrições e barreiras faz parte do nosso trabalho e a DHL está preparada para isso.
GM_ Como a questão da sustentabilidade está mudando as empresas nos dias de hoje?
SH_ Embora o compliance e a sustentabilidade tenham suas próprias especificidades, acredito que ambas as áreas complementam-se e apoiam-se mutuamente, compartilhando um objetivo em comum. O compliance ajuda a sustentabilidade, na medida em que estimula a adesão às políticas e práticas ambientais. Por outro lado, os princípios da sustentabilidade ajudam a fortalecer a cultura ética. Portanto, eu vejo essa interação como uma correlação de benefício mútuo.
GM_ O que você acha que deve mudar à medida que avançam as operações de comércio eletrônico (com prazos de entrega mais rápidos e centros de distribuição mais pulverizados) em termos de controle da qualidade, tanto em produtos quanto em serviços?
SH_O comércio eletrônico agrega maior complexidade à logística e à cadeia de abastecimento de uma empresa, mas ela também tem o suporte e solidez dos sistemas digitais, que estão cada vez mais sofisticados. Então, no final, temos uma maior visibilidade da operação, que facilita a rota de verificações e auditorias formais.
GM_ Alguns especialistas de associações brasileiras de logística afirmam que grandes corporações, com políticas de conformidade bastante rígidas, algumas vezes pecam pela falta de flexibilidade, até mesmo quando são os prestadores de serviços. Você acredita que políticas de conformidade com elevados graus de exigência podem impedir a empresa de firmar contratos com determinados clientes? Em termos gerais, qual a melhor forma de lidar com a relação entre políticas de compliance vs. flexibilidade?
SH_A DHL é flexível em termos de processos e sistemas operacionais. Logo, adaptações são possíveis desde que 100% legais e dentro dos limites das normas de compliance. Na pior das hipóteses, a DHL pode até chegar a recusar um projeto, mas isso é extremamente raro. Nós reconhecemos que, às vezes, os clientes têm a visão de que o compliance é uma barreira, mas trata-se exatamente do oposto: ela protege o operador logístico e o cliente, ao mesmo tempo em que minimiza eventuais riscos futuros.
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