A navegação e a tecnologia: erro de rota

Especialista diz que fator humano é negligenciado na aplicação e no desenvolvimento da tecnologia na navegação

Da forma como está aplicada, a tecnologia ainda não atende à navegação, segundo o especialista da IHS Fairplay, Richard Clayton. E ele dá uma razão para isso: a tecnologia, sozinha, não é pensada para a indústria da navegação comercial, uma vez que, para pensar a atividade marítima do ponto de vista de qualquer solução tecnológica, é necessário engajar as pessoas que trabalham no setor. Enquanto não são implantadas soluções abrangentes, ou “holísticas”, nas palavras de Clayton, a navegação comercial vai continuar a demonstrar resultados e retornos insuficientes para o investimento.

Segundo o especialista, essa mensagem precisaria chegar a todas as companhias de tecnologia que vêm tentando aplicar na indústria marítima as mesmas teorias que levaram à precoce adoção de sistemas automatizados feita pela aviação, pela indústria aeroespacial, de defesa, automotiva e de segurança. Uma mensagem à qual a própria comunidade marítima deveria responder, uma vez que, em um mercado tão severamente enfraquecido pela economia mundial em plena retração, com queda de preços de petróleo e a superoferta de navios, a resposta mais óbvia é de fato a tecnologia. “Porém é nos seres humanos que está a fonte da maioria dos erros; somos menos eficientes do que os modernos equipamentos marítimos, ficamos cansados, estressados, e perdemos o comprometimento quando submetidos a tarefas repetitivas em um ambiente ameaçador”, diz Clayton. Assim, não adianta investir em máquinas lustrosas e sistemas mágicos se não houver foco na motivação humana.

Enquanto a era da automação promete trazer uma gama de oportunidades que mal conseguimos vislumbrar, uma lista enorme de obstáculos ainda precisa ser superada, entre elas – e talvez principalmente – a reinterpretação das regulamentações. Construir tecnologia – é interagir com sistemas tradicionais ainda em serviço”. diz o especialista – é fácil. “Difícil mesmo é interagir com os sistemas tradicionais ainda em operação”.

O principal obstáculo que Clayton levanta é a necessidade de atender a prazos cada vez mais curtos. A navegação comercial, embora pareça bastante lenta em adotar o ritmo da tecnologia, caminha em alta velocidade e proatividade na busca por oportunidades nos mercados de commodities possíveis de serem explorados para aumentar a lucratividade.

Diante dessa nova característica da indústria da navegação que procura diretamente no mercado as perspectivas para seu avanço, Richard Clayton reforça que é necessário conciliar a tecnologia de última geração com o elemento humano – e está aí o fator decisivo para o sucesso ou a falha dos vanguardistas da tecnologia. “Pouco se tem a ganhar ao se investir em novos designs e tecnologias se elas não são empregadas de maneira correta, o que significa, de certa forma, que estejam sujeitas à implementação por pessoal sem afinidade com a tecnologia no dia-a-dia”, alerta.

Mais uma vez, a navegação comercial está atravessando uma fase crítica: demorou a aprender com as lições do passado, e o resultado é um setor que evoluiu sem acompanhar as necessidades do consumidor. Lá se vão oito anos da crise financeira que fez despencarem os mercados, e Richard Clayton lamenta que oito anos a navegação levou para parar de depositar suas esperanças na melhora da maré econômica para definir o seu futuro. “Chegou a hora de as companhias investirem em soluções holísticas que combinem o fator humano com a tecnologia se quiserem abraçar as oportunidades da próxima década”, completa o especialista da Fairplay.

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