Um panorama político ou econômico?

Professora da FECAP comenta projeções do FMI e aponta cenário brasileiro

Apesar de prever que o Brasil voltará a ter o oitavo maior PIB global em 2017, passando à frente da Itália, o relatório do FMI (Fundo Monetário Internacional) manteve em 3,3% a projeção de retração da economia do Brasil em 2016, após a queda de 3,8% em 2015.

Na opinião da professora de Economia da FECAP (Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado), Juliana Inhasz, a evolução do PIB na economia brasileira em 2016 deve seguir muito de perto o desempenho verificado em 2015, com retração da economia na casa de 3,0% a 3,5%. Segundo ela, esta queda deve ser justificada pela queda da renda, confiança do consumidor e do produtor ainda em níveis historicamente baixos e perda de produtividade. “Como não tivemos medidas econômicas que fossem efetivas em reverter a recessão, o produto continuou caindo, com inflação ainda elevada e persistente, juros elevados e déficit público cada vez maior. Este cenário implantou muita incerteza sobre a evolução da economia nos próximos períodos, e o resultado inevitável foi a persistência da recessão ainda em 2016”.

Segundo relatório o sinal só deve se inverter em 2017, com um crescimento de 0,5%, número que também repete a estimativa anterior, publicada em julho passado. Na opinião da professora a previsão parece “excessivamente otimista” para 2017. “O FMI projeta esse crescimento provavelmente imaginando que todas as reformas propostas serão efetivamente implementadas, e terão o efeito previsto, sem maiores problemas. Particularmente, acredito que o crescimento projetado para 2017 é excessivo, uma vez que a perspectiva para que as reformas sejam aprovadas e implementadas é o primeiro semestre de 2017”.

Para ela, tais políticas não possuem efetividade imediata: “elas demoram alguns meses para reverter efeitos sobre o PIB”. Neste aspecto, ela comenta que se as reformas propostas forem implementadas no primeiro semestre de 2017, dificilmente a economia conseguirá atingir crescimento econômico no próximo ano. Soma-se a isso o fato de que as políticas propostas são, inicialmente, recessivas, e devem acentuar a perda de renda e de produto no curto prazo. “Somente numa combinação muito feliz de fatores (considerando crescimento dos parceiros comerciais elevado, economia mundial em franca recuperação, políticas públicas implementadas e fortemente efetivas, e ausência de choques externos negativos) será possível atingir tal resultado. Acredito que, em 2017, o crescimento brasileiro deve ser nulo”, aponta.

Sobre o novo governo, a professora diz acreditar que ele conseguirá reverter a recessão econômica nos próximos anos, “desde que as reformas propostas sejam implementadas”. Destacando as reformas fiscal, trabalhista e previdenciária como necessárias, ela acredita que o governo ganhará espaço para reduzir gradativamente a taxa de juros, impulsionando, ao longo do tempo, investimentos que melhorarão a capacidade produtiva e, por consequência, o crescimento econômico. “Estes resultados, no entanto, se condicionam à aprovação e implementação das políticas propostas. Sem elas, não será possível a reversão da crise econômica que é esperada pelo mercado”, diz e lembra que a efetividade de tais políticas deve acontecer somente no ano de 2017, uma vez que tais reformas só devem ser implementadas no ano que vem. “Dessa forma, a retomada do crescimento econômico é extremamente improvável em 2016”.

A professora ressalta como importante ainda, apercepção do mercado que nos últimos dois meses, mostrou uma discreta melhora das condições econômicas. “Essa melhora se justifica pela reversão de algumas expectativas negativas dentro do mercado, especialmente via confiança do consumidor e via confiança do investidor. No entanto, a melhoria de tais expectativas não é suficiente para impulsionar o crescimento econômico; ao contrário, só consegue amenizar os efeitos da recessão no curto prazo”.

Mundo

Sem alterações nas suas previsões a respeito do desempenho da economia brasileira, por outro lado na avaliação do FMI o mundo deve crescer 3,1% em 2016, a mesma indicada em julho. E para 2017, a estimativa ficou igual: avanço de 3,4%.

Para Juliana Inhasz, a projeção é significativa. Entretanto, ela aponta que a retomada do crescimento acontecerá de forma mais lenta que a prevista inicialmente, por conta do baixo crescimento - e até recessão em alguns casos - dos países emergentes. “Colaboram para esta retomada lenta do crescimento a decisão britânica de sair da União Europeia e a previsão de redução do crescimento econômico americano para o ano de 2016. Ambos os fenômenos afetam a expectativa dos investidores e o crescimento econômico, reduzindo a confiança dos mesmos no mercado, e tornando-os cautelosos quanto a investimentos produtivos”.

Entre os principais colaboradores para esse resultado ela cita países como China e Índia, muito embora estejam apresentando desaceleração do crescimento nos últimos trimestres, e a colaboração fraca do Reino Unido, da Zona do Euro e dos EUA. Entre os países com colaboração negativa ao crescimento econômico mundial, ela destaca Brasil, Venezuela, Argentina, entre outros. “Estas perspectivas de crescimento levam em consideração a recuperação de economias anteriormente em recessão, com a retomada do crescimento europeu”.

Na América Latina, a economia permanece em recessão, mas a atividade parece estar perto 'da virada', à medida que os efeitos passados - o declínio nos preços das commodities, os ajustes dos preços administrados de 2015 e a incerteza política- se dissipam.

A professora lembra ainda que o crescimento econômico brasileiro só será possível com a melhoria das condições essencialmente domésticas. “É fundamental que a taxa de juros ceda nos próximos períodos, que a inflação entre na faixa da meta de inflação no próximo ano, e que os consumidores e investidores retomem, dessa forma, a confiança na economia brasileira. Isso acontecerá com a redução dos déficits primários e, portanto, redução da taxa de crescimento da dívida pública”. Para ela, a redução da dívida pública fomentará o aumento do investimento - tanto privado quanto público - e deve impulsionar um crescimento econômico de médio prazo. “Os resultados no curto prazo não são tão imediatos, mas a política proposta é feliz em pensar no crescimento de maneira sustentada”, finaliza.

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