Marítima brasileira relata os desafios, a rotina longe da família e o amor pela profissão
18 de maio: Dia Internacional da Mulher no Mar
A Organização Marítima Internacional (IMO), em 2022, escolheu uma data para a celebração do Dia Internacional da Mulher do Mar: 18 de maio. É também um marco para a reflexão num mercado ainda pouco inclusivo e acolhedor para as marítimas do mundo. Apesar do enorme potencial para o crescimento da participação feminina, as indústrias marítimas e offshore ainda são majoritariamente dominadas pelos homens. Dados de uma pesquisa realizada pela IMO e WISTA – rede global de apoio às executivas do mar – revelam que o emprego feminino ainda é bastante baixo. Globalmente, as mulheres representam menos de 2% da força de trabalho no setor.
Em abril, a WISTA Brazil e a Norsul, maior empresa de cabotagem do país, realizaram o primeiro encontro de marítimas brasileiras, num evento aberto, exclusivamente, às mulheres. O “Horizontes Femininos” reuniu, presencialmente e online, cerca de duzentas participantes das Marinhas Mercante e de Guerra, que compartilharam experiências no Teatro Adolpho Bloch, no bairro da Glória, Rio de Janeiro. O evento contou com a participação de comandantes de embarcações, oficiais de máquinas, executivas de grandes companhias, uma diretora da ANTAQ, a Agência Nacional de Transportes Aquaviários, e outras profissionais ligadas ao suporte das operações marítimas e portuárias. Elas debateram os desafios e, especialmente, a luta contra o assédio.
Neste 18 de maio, a data em que se celebra o Dia Internacional da Mulher do Mar, compartilhamos o perfil de uma brasileira que atua na costa do Nordeste e nos rios da Amazônia. Conheça a trajetória de Rafaela, suas conquistas e visões sobre o futuro da profissão.
Rafaela Larissa Pereira Sá, 37 anos - Oficial de Náutica da Norsul - Embarca no navio Juruti “O preconceito e a distância das pessoas que mais amamos são os principais desafios da mulher embarcada”.
Rafaela é engenheira de formação. Logo que saiu da faculdade, fez o curso ASON (Acesso à Carreira de Oficial de Náutica), voltado para pessoas com nível superior. Há dez anos, ela trabalha na Norsul, dos quais seis, embarcada no navio Juruti, que faz o transporte de bauxitas das minas do Pará.
Rafaela é mãe de Giovanna. Assim que descobriu a gestação, entrou de licença e só retornou à atividade sete meses depois do nascimento da filha. No pós-parto, a oficial encontrou um ambiente acolhedor, à época, no navio Pio Grande, que contava com diversas outras mulheres e era comandado por um velho conhecido.
Segundo ela, isso foi fundamental para que mantivesse a saúde mental, desafiada pela distância de casa. Rafaela explica que, como mãe e profissional marítima, a mulher deve ser realocada em um ambiente no qual possa contar com amparo psicológico.
“Para nós, marítimos, a embarcação é nossa segunda casa e, como em casa, nós fazemos laços fraternos fortes. Então, esse retorno para um local onde possamos contar com esse apoio e acolhimento é fundamental”, destaca.
Um dos maiores desafios de trabalhar embarcada e, sobretudo, sendo mãe, é conciliar o trabalho com a maternidade. Como sempre colocou a profissão como prioridade, Rafaela batalhou para alcançar o patamar atual e dedica o sucesso de sua jornada à rede de apoio que possuía.
“O preconceito, em geral, que ainda existe nesse mercado, e a distância das pessoas que mais amamos são os principais desafios. Saber lidar também com a questão da ausência, pois, muitas vezes, não estamos presentes nos momentos mais felizes e mais tristes dos nossos filhos ou familiares. É difícil! Mas, para mim, que batalhei muito por tudo que conquistei, poder contribuir para o sustento da minha filha e dos meus familiares me enche de orgulho e dá a certeza de que estou no caminho certo”.
Considerando sua experiência, Rafaela explica que, dentre as mudanças ou melhorias que gostaria de ver na indústria marítima, há um ponto fundamental: a segurança no retorno ao trabalho da mãe marítima. “A certeza de que o mercado de trabalho ainda não é tão favorável a essas mulheres é um ponto desafiador que pode pesar muito, inclusive, na decisão de se tornar mãe, com certeza”.
Como conselho para as mulheres que desejam seguir essa carreira, a oficial Rafaela diz que é importante ter planejamento e rede de apoio, além de um bom psicológico para saber lidar com as adversidades da vida materna e profissional. “Precisamos entender também que imprevistos acontecem e, na maioria das vezes, não poderemos fazer nada devido à distância”
No contexto do Dia Internacional da Mulher do Mar, Rafaela explica que o reconhecimento e a celebração são como um lembrete de que essa mulher ou mãe embarcada não está sozinha.
“Aos poucos, estamos conseguindo contornar o preconceito com muito trabalho, e esse reconhecimento feminino é fundamental para que nós e as futuras gerações não tenham medo e possam ter segurança em escolher a carreira marítima. Reconhecemos seus esforços, compartilhamos suas vitórias e caminharemos juntos nessa estrada rumo ao sucesso!”.

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