A economia é cíclica e os governos precisam ler os sinais
Com uma explicação histórica, Luiz Carlos Mendonça de Barros diz que o país vive um ciclo econômico em que a crise poderia ter sido prevista – e remediada.
“O brasileiro não tem ideologia formada sobre o tipo de modelo ideal para o país, porém ele reage pelo bolso, o que é a principal motivação da sociedade”, afirmou o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros em sua palestra sobre a Conjuntura Brasileira e os Desafios do País, realizada na Feira Supermercadista APAS 2016.
Vivemos em um país que alterna momentos de racionalidade com momentos difíceis, no qual a euforia do ciclo anterior desaparece e gera uma catarse, “quando a maioria da mídia faz parecer que o mundo terminou”, disse o doutor em economia pela Unicamp, que já ocupou cargos cruciais em entidades públicas e particulares, incluindo o BNDES, o Ministério das Comunicações, bancos, consultorias e indústria.
Ao traçar um perfil histórico da economia para contextualizar os dias de hoje como parte de um ciclo, Mendonça de Barros lembrou o chamado milagre econômico vivido pelo Brasil de 1966 a 1973, quando o país crescia 10% ao ano, até sofrer o choque da crise do petróleo. O governo reagiu mal à entrada da crise, e na época, mesmo alertado pelo economista Mario Henrique Simonsen, o então presidente Ernesto Geisel resistiu à necessidade de intervir com medidas para salvar a economia, algo que Barros hoje entende como certa incapacidade de um novo governo em aceitar que “acabara a farra do boi”.
Na análise do ex-ministro, aquele momento teria várias correlações com o cenário em que vivemos agora: o governo precisou usar “pedaladas” para indexação da economia, de modo a mascarar a crise econômica, o que diminuiu a capacidade de administrar a crise e reagir à mudança do ciclo econômico. Assim como hoje, o país viu estourarem os problemas, a sociedade reagiu e – como consequência –, chegamos ao fim da ditadura.
Mesmo com a reação da população, não foi no governo Sarney que a economia conseguiu se estabelecer, uma vez que a crise já vinha se estendendo há muito tempo e vivíamos um “porre econômico”. Só mais tarde, então, com Fernando Henrique Cardoso e a entrada do Plano Real – e um governo capaz de responder à crise –, foi que o País conseguiu retomar o crescimento, que chegou a 3 a 3,5% ao ano. No fim do ciclo, porém, vimos repetir um cenário econômico estufado, e assistimos à mesma história dos anos 70: “a euforia não permite que se entenda o fim do ciclo”.
Em gráficos ilustrativos, Mendonça de Barros ilustrou como o crescimento vivido pelo Brasil em 2011 (ao ponto de ganharmos capa da revista The Economist, comemorando a decolagem do país) já representava indícios, que o governo Lula não leu, de que o ciclo econômico da bonança estava por terminar. “A economia dá sinais, assim como o corpo humano, quando há abusos”, explicou o economista. Enquanto o crescimento do PIB Brasileiro estava em 5%, os gastos que incluem pessoa física, corporações e investimentos em geral cresciam 10%, ou seja: a indústria brasileira não tinha condições de suprir aquele mercado.
“E, no entanto, naquele momento, Lula detinha 80% de aprovação popular, que não estava disposto a perder: estava armada a armadilha da euforia”, continuou o ex-ministro, que afirmou ainda que o governo Dilma não percebeu que as tais “forças adicionais” criadas pelo PT para complementar o crescimento do mercado interno eram justamente o que iria enfraquecer a economia.
Em 2013, tomados pelo pânico das eleições agendadas para o ano seguinte, a economia precisava de um fôlego e, novamente, o governo optou por mascarar a crise em vez de intervir. “Porém a economia vem cobrar”, disse Mendonça de Barros: com a crise não gerenciada pelo governo, vivemos agora o fim do ciclo político de 14 anos do PT. E realça a dificuldade para o partido: “Lula foi Deus, e de repente ele acorda com a polícia na porta”.
“A economia é assim mesmo, cheia de pontos extremos, e a sociedade reage, como está reagindo, não é fácil”, continuou o economista, lembrando especialmente aos profissionais mais jovens, os quais entraram no mercado na época do plano real, que este não é o fim do mundo, mas sim um momento de retomada. Embora estejamos atrasados para fazer os ajustes necessários, o momento é de “estourar uma bolha de consumo, e será uma ruptura dramática, mas é uma fase muito importante para o empresário, um ‘turning point’, e aqueles que não entenderem podem se arrepender de não ter aproveitado essa oportunidade.
“Temos pressa de tirar esse governo que está aí, para que o próximo possa trabalhar a recuperação da capacidade. Hoje, a sociedade está muito mais ligada ao crescimento da economia do que em programas., o erro foi o governo petista não ter entendido”.
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