Brasil-China: é preciso cautela

O embargo chinês à carne brasileira começou dia 3 de setembro de 2021 e não se sabe se vai durar até o final do atual governo, depois de declarações bem pouco amistosas por parte de círculos ligados ao atual mandatário. Para piorar, mesmo que a China enfrente desabastecimento e volte a comprar a carne brasileira, não se sabe se o setor pecuário terá condições de atender à demanda, já que, em razão da pandemia de coronavírus, houve queda nos abates e menos animais passaram a ser confinados. Não foi só o setor pecuário que interrompeu suas atividades total ou parcialmente. Todos os setores sofreram redução, inclusive o de transporte de cargas e logística. E a previsão é que a normalização venha somente com o fim da pandemia. Por outro lado, houve um forte crescimento no comércio eletrônico, já que, praticamente, as pessoas não podiam sair às ruas normalmente.

Esse expressivo aumento nas vendas por meios eletrônicos acabou favorecendo a China, hoje a maior exportadora do planeta. Com isso, muitas mercadorias acumularam-se nos armazéns portuários, o que levou à falta de contêineres vazios, contribuindo para tumultuar ainda mais a economia. Ou seja, em razão da falta de contêineres disponíveis, muitos exportadores ou importadores não conseguem escoar a produção da forma como faziam antes da pandemia, o que acaba por resultar no acúmulo de cargas e no desabastecimento global.

Como consequência, o valor do frete marítimo também disparou, a ponto de o custo para trazer um contêiner de 40 pés da China para o Brasil chegar hoje a US$ 10.500, quando antes da pandemia esse procedimento não exigia mais de US$ 1.500. É que a América do Sul, como está fora das mais importantes rotas de navegação, responde por pouco mais de 1% dos contêineres globalmente movimentados e a rota para esta parte do mundo tornou o frete mais caro. Com isso, importadores e exportadores perdem competitividade, o que acaba por gerar prejuízos para o setor de transporte de cargas e logística, responsáv el por movimentar esses produtos dos portos para o interior do País e vice-versa.

Para se ter uma ideia dos prejuízos que podem advir da diplomacia pouco amistosa do governo brasileiro com o país asiático, basta lembrar que, segundo dados do Ministério da Economia, mais de 99% das importações brasileiras da China são de produtos da indústria da transformação. Ou seja, o Brasil vende majoritariamente commodities de baixo valor agregado e importa produtos industrializados. Seja como for, desde 2009, a China é o principal parceiro comercial do Brasil e as relações comerciais entre os países têm se tornado cada vez mais intensas.

É verdade que, nos dois primeiros anos do governo Bolsonaro, a dinâmica comercial não foi afetada pelas tensões diplomáticas. As vendas brasileiras têm se concentrado em três produtos: soja, petróleo e minério de ferro, que respondem por quase 80% das exportações brasileiras. Em contrapartida, mais de 99% das importações brasileiras da China são de produtos da indústria da transformação, o que é reflexo de erros acumulados por sucessivos governos brasileiros que não souberam favorecer o setor industrial, permitindo que fosse sucateado.

O que ainda mantém a economia de pé é que o Brasil é o principal produtor mundial de soja, seguido por Estados Unidos e Argentina, que juntos concentram cerca de 80% da produção mundial. Entre os maiores consumidores no mercado internacional, estão a China e a União Europeia, que representam cerca de 71% das importações mundiais. Mas a China é, de longe, a maior consumidora e importadora de soja do mundo, sendo responsável por 61% das importações em nível mundial.

A esperança é que a recuperação econômica pós-pandemia continue a ampliar a demanda global por produtos primários pelos próximos anos, especialmente na China e nos Estados Unidos, que cresceram 6% em 2021, segundo alguns analistas. Isso vai beneficiar produtores como o Brasil por meio da valorização dos preços das commodities que têm forte peso na balança comercial.

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