Política de conteúdo local volta a ser questionada

Especialistas da indústria naval concordam com as regras estabelecidas na lei, mas afirmam que elas não são cumpridas

Em meio à reestruturação política que o país enfrenta, um assunto voltou à tona no mercado naval: a política de conteúdo local. Exigindo atualmente que a produção de equipamentos nacionais atinja níveis entre 60% e 75%, especialistas do setor dizem que as regras estabelecidas tendem a trazer ganhos ao mercado, mas para, que se concretizem, mudanças são necessárias. Para eles, da forma que está, é muito difícil alcançar a meta estabelecida.

Para o superintendente do Estaleiro Renave, Luiz Eduardo de Almeida, essa é uma política benéfica, mas o problema é que não se faz o que se estabelece através dela. “Não há como exigir que um construtor, por exemplo, construa navios nacionais se não há fabricantes de peças de qualidade no país. No papel, é muito fácil; não basta escrever a lei apenas, é preciso criar toda uma infraestrutura nacional que atenda a essas exigências”, acrescenta Almeida.

O gerente administrativo do Estaleiro Marciate, Alberto Taborga, corrobora. “Os estaleiros enfrentam dificuldades para encontrar peças no país e quando conseguem os preços são muito elevados ou os produtos demoram muito para serem entregues, o que acaba atrasando os trabalhos. Sem dúvida nenhuma, essa é uma área que deveria crescer no Brasil e uma lei que institua essa prática, que favoreça a fabricação e o fornecimento dos materiais tende a trazer benefícios ao setor”.

O questionamento à política nacional não se restringe apenas aos estaleiros, o gerente de vendas de soluções marítimas da Wärtsilä Brasil, Mário Barbosa, diz que o conteúdo local é interessante para desenvolver toda a indústria brasileira, mas há que se atentar a alguns pontos. “Antes tem que analisar a competitividade, com a possibilidade de disponibilizar preços competitivos ao mercado e com equipamentos de qualidade, mas com a baixa demanda em algumas peças isso não se concretiza. É necessário que se reavalie a política, porém, sinceramente, teria que ver ainda se isso não prejudicaria as empresas que já investiram nesse mercado”, ressalta.

Barbosa reforça esse ponto porque a Wärtsilä Brasil é uma das empresas fornecedoras que já apostaram nessa lei. “Para nós, essa política já fez bastante diferença. Nos projetos das sondas para a Sete Brasil e para a Petrobras, por exemplo, fizemos um grande investimento em uma unidade de montagem de grupos geradores, propulsores e outros equipamentos, que poderíamos ter fabricação no mercado nacional”, conclui o executivo da companhia.

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