UE aprova a aquisição da TNT Express pela FedEx por 4,4 bilhões de euros

A possível aquisição da FedEx, aprovada pela União Europeia, gera expectativas de que a empresa avance sobre o território da concorrente DHL, invertendo a competição tradicionalmente mantida com a UPS

download (3) A divisão antitruste da União Europeia aprovou incondicionalmente a proposta de compra da TNT Express pela americana FedEx. A compra eliminaria o principal obstáculo à fusão das empresas, criando o segundo maior operador de carga expressa da Europa. “Estamos bastante satisfeitos com a aprovação incondicional da Comissão Europeia”, disse David Binks, presidente regional da FedEx para a Europa.


Ambas as companhias afirmaram que continuam procedendo com as negociações, e esperam que o negócio seja fechado ainda na primeira metade de 2016. Em outubro, os porta-vozes das duas empresas já haviam antecipado que os órgãos reguladores de Bruxelas não iriam impedir a transação.


A chefe da divisão antitruste da União Europeia, Margrethe Vestager, disse que as entidades “avaliaram profundamente os mercados que seriam afetados pela compra, e chegaram à conclusão de que o consumidor europeu não seria prejudicado pela transação”. A comissária disse ainda que “a DHL e UPS vão efetivamente competir com as companhias integradas depois da conclusão da transação, de forma que a fusão vai permitir que a atividade ganhe mais eficiência por conta de redução de custos na cadeia como um todo”.


images Para o Journal of Commerce, tanto a FedEx quanto a TNT afirmaram que estão trabalhando de maneira “construtiva” ainda aguardando a regulamentação de outros mercados, como a China e o Brasil. A divisão de carga expressa da TNT Brasil ainda não se manifestou a respeito das negociações, mantendo o posicionamento da comunicação global da empresa, porém a mídia internacional especializada garante que a América Latina será diretamente impactada pela fusão. De acordo com Cathy Robertson, da Transportation Intelligence, a malha sul-americana ganhará um alcance maior “e o Brasil teria um interesse particular na operação”, afirmou.


Nos últimos seis anos, ambas as empresas fizeram investimentos amplos no Brasil, incluindo a aquisição da Expresso Araçatuba pela TNT em 2009, o que garantiu acesso à rota entre o Brasil e a Argentina, Uruguai, Paraguai, Chile, Bolívia e Peru. Dois anos mais tarde, a FedEx adquiriu a Rapidão Cometa Logistica e Transportes para atender ao mercado doméstico de carga expressa.

Roberson enfatiza que “a FedEx vai poder expandir seu alcance e serviços no enorme continente sul-americano”. Ela cita especificamente o Chile, onde a LIT Cargo, recentemente comprada pela TNT, irá contribuir para a expansão do alcance da FedEx.


A visão do mercado sobre nova aquisição da FedEx, no entanto, é de que a operação fará com que a empresa avance sobre o território da concorrente DHL, invertendo a clássica competição que esta sempre manteve com a UPS. Ao combinar os 12% de participação da TNT no mercado Europeu com os seus 5%, a FedEx vai criar a segunda maior operadora local, logo atrás da DHL Express, do grupo Deutsche Post, que detém hoje 19% do mercado, ultrapassando, portanto, os atuais 16% da UPS. A questão levantada por especialistas, no entanto, é: o que a FedEx pretende ao intensificar a sua presença no mercado de carga expressa, que já luta pela lucratividade de maneira tão acirrada?


Em nota divulgada pela Transportation Intelligence, o especialista Thomas Cullen afirmou que a compra representa um grande passo para a presença mundial da FedEx. Embora a empresa já possua uma boa extensão no tráfego intercontinental, seu perfil em mercados como a China ou a Europa Continental ainda não se compara à profundidade com que a empresa atua nos Estados Unidos, caracterizada por uma forte operação “last mile”, com foco nas pontas da cadeia e uma ampla malha rodoviária que complementa o propósito do serviço aéreo expresso.


Cullen afirma que, de posse da TNT, a FedEx poderá agora considerar o ganho de território na Europa, porém essa jornada não será nada simples: “a Europa não é um mercado coerente”, diz ele. Mesmo os mercados vizinhos, como a Grã-Bretanha e a França são bastante diferentes, com perfis diferentes de clientes e fornecedores. Os fluxos de tráfego são geralmente fragmentados e seguem diferentes padrões de acordo com as regulamentações nacionais.


Mercados varejistas digitais como o do Reino Unido e da Alemanha, por exemplo, já estão bastante avançados e ainda em ascensão, porém, enfrentam uma competição ferrenha. Ademais, a TNT Express é uma empresa muito mais orientada para o mercado B2B do que para o segmento “last mile”. De fato, a TNT Express possui uma presença forte no serviço rodoviário de cargas, sendo uma das maiores transportadoras internacionais, especialmente no segmento de carga fracionada less-than-pallet. No entanto, o mercado tem por característica não apenas a competição acirrada, como uma lucratividade limitada.


Nos Estados Unidos, tanto a FedEx quanto a UPS conseguiram criar uma malha rodoviária que replica a eficiência do sistema “hub and spoke”, em que o serviço é sempre interligado por um determinado centro de distribuição. Na Europa, uma iniciativa como essa seria ambiciosa e difícil, de acordo com a análise de Cullen, embora as rivais DeutscheBahn Schenker, Gefco e a própria DHL considerem que já venham operando com sistemas semelhantes.


Esta não é a primeira vez que a TNT aparece em uma negociação de alcance internacional. Em 2012, a empresa esteve próxima de fechar com a UPS, após receber uma proposta de 5,2 bilhões de euros, porém as transações foram suspensas após a proibição da Comissão Europeia, preocupada com a predominância excessiva da incorporação no território regional.


Em novembro, a FedEx afirmou que a fusão com a TNT Express possibilitaria uma postura altamente competitiva no mercado de carga expressa, tanto na Europa quanto em serviços intercontinentais. As empresas acrescentaram ainda que são extremamente complementares, uma vez que o ponto forte da FedEx está nos serviços domésticos dos Estados Unidos, com extensão para o mercado econômico europeu, enquanto o foco da TNT Express se mantém nos serviços intra-Europa.


Integradas, as empresas vão manter a matriz em Amsterdã / Hoofddorp, e o hub da TNT Express em Liege. A TNT é hoje uma empresa com respeitável faturamento de 6,7 bilhões de euros, a partir de operações espalhadas na Europa, Oriente Médio, Pacífico Asiático e América Latina. Os ativos da companhia incluem frota aérea, veículos, hubs e depósitos que movimentam cerca de 1 milhão de entregas por dia no mundo todo. Em 2014, a empresa divulgou seus planos de produtividade, segundo os quais reestruturaria a equipe gerencial, e investiria em pessoa, processos, sistemas de TI e competências institucionais, para lidar com a concorrência cada vez mais acirrada e as condições adversas do mercado, especialmente no oeste europeu.



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