Concessionárias de transporte ferroviário de cargas revelam planos de investimentos para os próximos anos

Anúncio foi realizado durante a NT Expo Xperience, evento virtual voltado ao setor ferroviário, que teve início nesta terça-feira (24)

Dando continuidade à programação de conteúdos da NT Expo Xperience, evento 100% digital voltado para o setor ferroviário, que teve início nesta terça-feira (24) pela manhã, mais uma série de debates exclusivos sobre o setor vieram à tona. Entre eles, destaque para o painel "Planos e Projetos das Ferrovias de Carga", que contou com a presença de representantes das principais concessionárias de transporte ferroviário de cargas do país: MRS Logística, Rumo Logística, Vale e VLI Logística.

Em sua participação, a diretora de relações institucionais e assuntos regulatórios da VLI Logística, Silvana Alcântara, mencionou a recente inauguração de dois novos terminais da empresa: um em Guará (SP) e outro em Santos (SP) "Para concluí-los, realizamos investimentos na ordem de R$ 207 milhões. Em ambos os casos, assinamos contratos de concessões de 30 anos", disse.

Para o futuro, a executiva adiantou que a companhia planeja realizar novas inaugurações. "Seguimos realizando aportes em outras unidades da VLI ao redor do Brasil, como em nosso corredor ferroviário localizado em Uberaba (MG), no qual estamos investindo na ampliação. As obras, que receberam recursos de R$ 63 milhões e geraram cerca de 300 empregos em todo o processo, devem ser concluídas já em maio de 2021. Outra unidade que também está sendo ampliada é a da cidade de Palmeirante (TO), que recebeu, em média, R$ 280 milhões em aplicações e gerou, aproximadamente, 250 postos de trabalho. A conclusão desta obra está programada para ocorrer em julho de 2021", exaltou.

Quem também participou da NT Expo Xperience foi o diretor de relações institucionais da MRS Logística, Gustavo Bambini. "Nosso principal projeto para os próximos anos é proporcionar a maior integração logística possível entre os estados e rotas nas quais já atuamos, localizadas em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Isso porque, com a interligação desses três eixos metropolitanos do país, prevemos conseguir amplificar o potencial dessas ferrovias, nas quais já somos muito fortes no escoamento de minério", pontuou.

"Consequentemente, por passarmos por grandes centros urbanos, nosso objetivo é propiciar com o investimento em infraestrutura urbana e em segurança mais convergência entre as nossas ferrovias e as cidades no entorno, de forma a não prejudicar o fluxo natural dos municípios - à exemplo do que já fazemos em Volta Redonda (RJ)", acrescentou.

A gerente executiva de assuntos regulatórios, portos e ferrovias da Vale, Daniella Barros, por sua vez, comentou sobre as iniciativas da mineradora, que, segundo ela, tem os investimentos como parte do DNA da companhia. "Sempre seguimos em busca de investimentos no setor ferroviário. Nos últimos anos, realizamos cerca de R$ 23 bilhões de aportes no segmento. E não apenas na área mineral, na qual somos, hoje, a maior exportadora do Brasil, mas também visando outros tipos de cargas, como cargas gerais. A mesma coisa no setor de passageiros: atualmente, nós operamos os dois únicos três de passageiros sobre trilhos do país, na Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM) e na Estrada de Ferro Carajás (EFC)".

No que refere ao futuro, Daniella afirmou que os próximos passos da empresa são audaciosos. "Nossa expectativa é realizar mais de 450 obras ao longo das ferrovias que operamos pelos próximos 10 anos. Da mesma maneira, nosso intuito é que até 2050 consigamos mudar toda a matriz energética de nossa malha de transporte, passando a adotar somente trens elétricos em nossas operações. Entre outras iniciativas que estão nos nos nossos planos", complementou.

Em sua intervenção, o diretor institucional da Rumo Logística, Guilherme Penin, afirmou estar otimista com o atual estado do setor ferroviário. "Grandes investimentos de modernização das linhas férreas começam a ser feitos agora. Nós, por exemplo, faremos aportes de modernização da Malha Paulista, via operada pela Rumo. Pretendemos promover também uma duplicação de mais de 100 km de trilhos na região de Campinas (SP), além de realizarmos investimentos em novas tecnologias, em infraestrutura urbana nas regiões próximas às nossas ferrovias e etc", concluiu.

Short Lines: uma tendência para o setor ferroviário brasileiro

Outro destaque deste segundo período de NT Expo Xperience foi o painel que abordou a crescente tendência das short lines (linhas que oferecem trajetos curtos e de custos mais baixos) no setor ferroviário de cargas brasileiro, que contou com a participação de quatro importantes nomes do cenário nacional. Entre eles, estava o senador Jean Paul Prates (PT/RN), relator do projeto de lei do Senado Federal que trata da exploração do transporte ferroviário em propriedades privadas, o PL 261/2018, que vai de encontro ao tema.

A proposta, de autoria do senador José Serra (PSDB/SP), prevê a exploração de ferrovias por meio de autorizações, que somente será concedida pelo governo após uma chamada pública de interessados. A concorrência entre empresas explorando a mesma região geográfica está prevista como forma de incentivar a competição e a modicidade dos preços. Também está prevista a utilização de um mesmo trecho ferroviário por várias empresas, não ocorrendo a exclusividade, e a criação de uma entidade privada de autorregulamentação ferroviária. O texto já foi aprovado pela Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), em dezembro de 2018.

"Outros fatores que defendemos nesse projeto é o de maior segurança jurídica aos investidores, trazendo este quesito para o âmbito legal. Criamos também o papel do auto-regulador e uma espécie de categorização para diferenciar os tipos de serviços que serão prestados, que consideramos pontos muito importantes neste projeto", disse.

Quem também esteve presente foi o coordenador de gestão ferroviária do Ministério da Infraestrutura, Luis Felipe Arrussul de Melo. Para ele, o projeto de lei 261/2018 será uma revolução no setor. "O governo federal apoia esse projeto e está alinhado com ele. E digo mais, as ferrovias não são um projeto de governo e nem de partido, elas são um patrimônio histórico do país, tanto quando o assunto é o transporte de cargas sobre trilhos quanto o de passageiros. Nós, do Ministério da Infraestrutura, seguiremos em conjunto com as demais entidades do setor para desenvolver ainda mais este mercado no Brasil", afirmou.

O secretário geral da Associação Latino-Americana de Ferrovias (ALAF), Jean Pejo, disse, por outro lado, que o grande desafio agora é convencer o mercado de que o modelo de short lines é viável e competitivo. "Todo o nosso trabalho agora é convencer o mercado de que este é um bom negócio e de que vale a pena investir nele. Mas não tenho dúvidas de que estamos no caminho certo e de que esse programa de short lines será implementado no país, trazendo mais negócios, geração de empregos, inclusão social e muito mais. Eu acredito no Brasil e no futuro desse setor", exaltou.

Já o diretor da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Alexandre Porto, é mais cauteloso. Para ele, é necessário, realmente, uma sinalização concreta do poder público em prol do desenvolvimento do setor, como o avanço da PL 261/2018, pois somente assim acredita que será possível começar a regular tudo corretamente. "Precisamos modernizar muito o marco regulatório do setor e isso casa bastante com a proposta da PL 261, que visa simplificar os procedimentos do segmento", completou.

O papel da tecnologia wireless no setor de infraestrutura nacional

Fechando a programação deste primeiro dia de NT Expo Xperience, o papel da tecnologia wireless na convergência da infraestrutura de comunicações vitais e não vitais no processo de digitalização das ferrovias foi o destaque. Para falar sobre o assunto, o evento recebeu o Head of IoT Sales Latam da Cisco, Rodrigo Linhares.

Segundo ele, digitalização tem a ver com os benefícios da tecnologia em reduzir erros nos processos e na automação como ferramenta para o ganho de eficiência operacional e lucratividade dos negócios. "O que estamos vendo é uma convergência das áreas de TI com as de operações das empresas e diferentes setores econômicos, levando a digitalização e a automação a novos mercados além das áreas internas e administrativas da companhia", disse.

"É aí que surge a tecnologia wireless, sendo capaz de suplementar o bom funcionamento de diversos dispositivos e equipamentos que precisam estar cada vez mais conectados, permitindo o acesso a dados em tempo real. Existem várias tecnologias neste sentido, mas a que se torna bastante efetiva para o setor ferroviário é a chamada fluidmesh, que traz uma alta capacidade de mobilidade, permitindo que a locomotiva trafegue em alta velocidade, até cerca de 300 km por hora, sem a perda de sinal por nenhum segundo sequer, mantendo a conexão com estabilidade e confiabilidade", finalizou.

Seja o primeiro a comentar

Os comentários e avaliações são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do Guia Marítimo. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie.