Eficiência de portos secos amenizam limitações logísticas na região Centro-Oeste
Em reunião do Conselho Centro-Oeste Export, cases de Anápolis e Cuiabá revelam alternativas para a escassa infraestrutura disponível para o escoamento da rica produção local
Em webinar organizado pelo Conselho Centro-Oeste Export para discutir os portos secos do Centro-Oeste, a potencialidade da região foi colocada em pauta, assim como as dificuldades logísticas que produtores, industriais, importadores e exportadores enfrentam ao utilizar a área como base para seus modelos de negócios.
Comandado pelo Conselheiro do Brasil Export e presidente da Câmara Temática de Logística e Transporte do Agronegócio do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento de Goiás (CTLOG), Edeon Vaz Ferreira, que também é presidente do Conselho Centro-Oeste Export, o evento reuniu mais de 40 empresários e trouxe dois exemplos de resiliência na região: o Porto Seco de Cuiabá e o Porto Seco Centro-Oeste S/A, em Anápolis.
Na visão de Ferreira, "a pujança da região não se traduz na agregação de valor aos produtos locais. A industrialização dos produtos está muito aquém. Existe a logística de transporte de algodão descaroçado em contêineres e outros grãos. A situação hoje de Mato Grosso, por exemplo, é uma porta aberta para os operadores logísticos para se instalarem na região e serem parceiros".
O presidente do Porto Seco de Cuiabá (MT), Francisco Almeida, afirmou que o estado do Mato Grosso tem pequenos volumes na importação, mas grande performance como exportador, especialmente da produção de grãos em geral, etanol, gado, energia elétrica, entre tantos outros. "Entretanto, infelizmente, temos ainda uma fragilidade muito grande que é não poder transformar os produtos dentro do estado. Somos grandes exportadores de produtos in natura, o que não é bom para o estado", disse.
Almeida ressaltou que a necessidade de se modernizar a infraestrutura logística é urgente. "O que precisamos para ontem é melhorar a nossa logística, para que possamos aprimorar o escoamento. Olhamos com reserva os projetos de modernização da infraestrutura logística, porque já experimentamos a frustração de ver inúmeros projetos não se concretizarem e temos, hoje, uma realidade desastrosa no que se refere à logística. Para se ter uma ideia, temos apenas uma empresa no porto seco de Cuiabá autorizada para operar com a multimodalidade de transporte aduaneiro e o pior: a questão tributária é nociva para a intermodalidade".
O outro painelista foi o superintendente do Porto Seco Centro-Oeste S/A, Everaldo Fiatkoski. O terminal alfandegado de uso público localizado em Anápolis (GO) é destinado à armazenagem e à movimentação de mercadorias importadas ou de exportação. "Apesar da grande produção que temos, não conseguimos ser competitivos na exportação ou no mercado interno por conta da escassa oferta logística e das incidências tributárias sobre as operações de escoamento", detalhou.
O terminal foi o primeiro Porto Seco da região Centro-Oeste, criado por meio de concorrência pública, em que empresários goianos formaram um consórcio vencedor da licitação, obtendo assim, a licença para a prestação dos serviços aduaneiros. Alfandegada em setembro de 1999, a instituição incorporou na região uma nova alternativa logística, desempenhando papel fundamental no desenvolvimento do estado. "Temos uma área total de 1 milhão de metros quadrados, terminal de veículos, de minérios, de grãos, área alfandegada, armazém para mercado interno, terminal de algodão, espaço para novos negócios e potencial para crescer. E é importante ressaltar que, em um raio de 1000 km, a partir de Anápolis, atinge-se 70% do mercado consumidor. Junto a Brasília (DF) e Goiânia (GO) é o terceiro maior eixo econômico do país. De 2014 a 2020, registramos operações com 55 mil contêineres e 335 mil toneladas e uma movimentação de carga de clientes que chega a US$ 15 bilhões, o que mostra a pujança de Goiás na atração de operação e investimento", argumentou Fiatkoski.
Anacronismo
Solicitado a participar, o diretor presidente e CEO da ABOL - Associação Brasileira de Operadores Logísticos, Cesar Meireles, que também integra o Conselho do Fórum Permanente do Brasil Export, versou sobre vários temas afetos à multimodalidade, burocracia e logística em geral, realizando, na sua fala, um verdadeiro desabafo. "Gostaria antes de mais nada parabenizar os dois expositores pela coragem e trabalho realizado nas suas operações porque não é fácil idar com operações alfandegadas em Zona Secundária, na hinterlândia, nos rincões de um país como o Brasil. Ao ouvir os senhores, abnegados empresários, tenho a lamentável sensação de dejà vu. Estamos no setor há mais de três décadas, vivendo, clamando, repetindo e deparando-nos diante dos mesmos problemas!", questionou.
Meireles continuou: "Vejo, como empresário, líder setorial e cidadão, regozijado a palavra firme e positiva do Fiatkoski e do Almeida no trabalho que vêm fazendo, mas nos deparamos com o anacronismo burocrático e ausência de providências por parte dos governos há anos! Muitos são os exemplos! Começo com a lei n०. 9.611 de 1998, do Operador de Transporte Multimodal (OTM), a qual nascia naquele momento não como vanguarda, mas sendo simplesmente uma repetição do que estava acontecendo mundo afora. Só que, naquele instante, havia um compromisso efetivo de que o país fizesse a reforma tributária; pois bem, sem ela, consideremos esse marco legal natimorto, por inoperante que é. Não adianta obtermos licença na ANTT, colocarmos a CNAE de OTM nos cartões CNPJ, pois é perda de tempo. No Brasil são mais de 400 registros OTM na ANTT e não há um só conhecimento de OTM emitido e que não vai ser emitido por conta da inexistência de uma reforma tributária que cobrisse com propriedade a operacionalização do OTM", reclamou.
O diretor presidente e CEO da ABOL, um dos patrocinadores do Fórum Brasil Export, afirmou estar frustrado com o que se propõe quanto a reforma tributária apresentada, dado termos duas versões no parlamento, o que pode vir a retardar todo o processo. "Lamentavelmente, podemos estar diante de um retrocesso. Caso não sigamos para a constituição de uma reforma tributária que equalize o imposto de valor agregado em substituição ao ICMS, o OTM vai para o freezer novamente, se que de lá saiu em algum momento! Desculpem o desabafo, mas, aproveitando aqui a presença do deputado federal Edinho Bez, mas chega uma hora como cidadão, líder setorial e empresário, que não vemos correspondência entre a urgência do empresário vis-à-vis as respostas e entregas dos governos", enfatizou Meireles .
Meireles ainda pontuou questões que se encaixam no mesmo campo de preocupações e frustrações. "Ainda trazendo como exemplo o TRC, temos um sem número de documentos digitais e físicos a emitir e portar. Se a discussão é a navegação de cabotagem, somos levados a emitir o mesmo número de documentos do longo curso. Para piorar, deparamo-nos com mais uma ‘jaboticaba’ brasileira, que é o frete mínimo no TRC, a criação de mais um documento obrigatório o CIOT (por ora suspenso) e por aí segue", disse.
"O imbróglio burocrático/regulatório vai ainda mais longe! O próprio recinto alfandegado tem discussões infindas, como a própria terminologia, se é uma Estação de Interior (EADI), um Centro Logístico e Industrial Aduaneiro (CLIA), ou Porto Seco! Como vamos incentivar o desenvolvimento e a atração de investimentos em um ambiente de tamanha insegurança jurídica como o nosso? É uma entropia lamentável! Os recintos alfandegados de interior, como queiram chamar, são verdadeiras plataformas logísticas e precisam ter ligações multimodais, portanto, faz-se mister urgenciarmos a modernização dos marcos regulatórios, e outras providências", concluiu!
Notícias do dia
-
Marítimo
Descarbonização da Logística
-
Marítimo
CMA CGM lança Medidor de Descarbonização para Remessas Sustentáveis no Transporte Marítimo
-
Terminais
Rumo e DP World Firmam Parceria para Construção de Novo Terminal de Grãos e...
-
Marítimo
ONE: Desafios e Inovações na Redução de Emissões na Cadeia de Suprimentos
-
Logística
Plataforma seaexplorer da Kuehne+Nagel mostra opções de rotas mais sustentáveis
-
Ferroviário
MRS Investe em Tecnologia Verde para Reduzir Emissões
Seja o primeiro a comentar
Os comentários e avaliações são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do Guia Marítimo. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie.