Rotas à míngua

Queda nos volumes, supercapacidade, retração dos mercados: como anda a equação na rota da Ásia para a América do Sul?

Com economias periclitantes nas duas pontas, a rota Ásia – Costa Leste da América do Sul viu a demanda de contêineres, especialmente na direção sul, minguar a níveis quase tão inexpressivos quanto a sempre mais fraca rota para a Ásia.

Os fretes praticados na rota da Ásia para a Costa Leste da América do Sul atingiram a sua menor tarifa em seis anos, enquanto a demanda dos navios por cargas conteinerizadas aumentou drasticamente, de acordo com as estatísticas publicadas recentemente pelo Datamar. Muito embora a balança comercial e analistas econômicos coloquem as exportações do Brasil como tábua de salvação para o enfraquecido mercado interno, até como uma forma de aproveitar a disparidade entre o real e o dólar, o volume de cargas transportado da América do Sul para a Ásia caiu nada menos do que 32% em novembro de 2015.

Na análise dos dados divulgados pelo Datamar, o Drewry Maritime Institute relata que a queda é tão notável que o total de 84 mil Teus registrados em novembro na direção da América do Sul ficou somente 20 mil Teus acima da rota para o norte, tradicionalmente bem mais fraca. Para se ter uma dimensão do movimento brusco, em agosto de 2105, os contêineres embarcados para o sul chegaram ao dobro da rota contrária.

Da Ásia para a Costa Oeste da América do Sul

(em mil Teus)


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*Dados preliminares. Todas as estatísticas incluem cargas secas, refrigeradas e em tanques.

Fonte: Datamar

Mesmo com a insistência dos Ministérios da Fazenda e da Indústria e Comércio em enfatizar o sucesso das exportações, o Brasil é considerado pelo instituto Drewry como o principal causador da redução do fluxo de mercadorias para a Ásia, com volumes retraídos em 13% na comparação com os 12 meses anteriores. Em contrapartida, a região do Prata da Argentina, Uruguai e Paraguai são vistas pelo instituto como empenhadas em manter a o comércio bastante ativo, com crescimento de 10% sobre os últimos 12 meses.

O FMI (Fundo Monetário Internacional) inclusive destacou o Brasil como o principal responsável pelo rebaixamento do PIB global: “A recessão causada pelas incertezas políticas em meio aos escândalos continuamente levantados pelas investigações sobre as atividades da Petrobras tem se mostrado cada vez mais profunda e mais extensiva”, declarou o porta-voz do fundo no último painel da economia mundial (WEO – World Economy Outlook). Depois da retração de 3,8% registrada em 2015, os dados de outubro do FMI reservavam para a economia brasileira outra queda de mais 3,8% para este ano e, como se não bastasse, um 2017 condenado ao crescimento zero. Atualmente, no entanto, as previsões apertaram ainda mais, derrubando as expectativas em 2,5% e 2,3%, respectivamente, em relação aos dados de outubro.

Média anual do tráfego de contêineres


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Drewry Maritime Research, derived from Datamar

Em setembro, o serviço NHX (12 navios de 4.250 Teus), operado pela NYK, PIL, HMM, K Line e Yang Ming, foi suspenso após cancelar 10 embarques e chegar a uma redução temporária de capacidade para um terço da oferta habitual. O número de viagens canceladas permaneceu inalterado em novembro, porém o tamanho dos navios ociosos já diminuiu, o que significou uma contagem mensal aumentada em cerca de 15.000 Teus. A quantidade de slots disponíveis, no entanto, ainda permanece 17% abaixo dos níveis habituais na comparação ano a ano.

Capacidade na rota Ásia – América do Sul

(em mil Teus)


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Drewry Maritime Research

Apesar do fôlego artificial que as viagens canceladas garantiram à utilização média dos navios em outubro, elas não foram suficientes para impedir que os fretes despencassem. O relatório Container Freight Rate Insight, também publicado pela Drewry, revelou que os fretes spot praticados na rota de Xangai para Santos caíram para até US$ 670 por container de 40 pés em dezembro, a tarifa mais baixa desde o início da série publicada pelo instituto, em 2009, quando os fretes chegavam a inconcebíveis US$ 5.300 pelo contêiner do mesmo tamanho. Para se ter uma ideia da queda atual, no início de 2015, as tarifas neste corredor estavam por volta de US$ 2.500 por contêiner de 40 pés.

Na última análise do Drewry, também publicada no Guia Marítimo, a sugestão era que os armadores começassem a pensar em medidas drásticas para conter as quedas. Aparentemente, um deles já deu sinais de que a situação chegou ao extremo. A japonesa MOL anunciou estar considerando deixar este mercado, no qual atualmente opera o serviço CSW com 10 navios de 5.500 Teus em parceria com a Maersk e MSC. Em nota pública, a MOL divulgou que a rota tem causado prejuízos desde 2010 e é atualmente a segunda maior fonte de prejuízos da empresa, atrás apenas do corredor Ásia - Europa.

Rota sul da Ásia para América Latina

Utilização x Fretes


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Drewry Maritime Research e Drewry Container Freight Rate Insight

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