Suspensão de sanções contra o Irã ainda requerem ajustes

Restrições primárias, como em operações financeiras, seguros e resseguros, permanecem com limitações que vão dificultar transações comerciais. Com a injeção do petróleo iraniano no mercado mundial, preços tendem a despencar ainda mais


Em 16 de janeiro de 2016, os Estados Unidos suspenderam uma série de sanções contra o governo do Irã, no que chamaram de “Implementation Day”. O afrouxamento das restrições ao país foi incentivado por um relatório da IAEA, sigla em inglês para a Agência Internacional de Energia Atômica, que atestou que o Irã havia cumprido com suas obrigações estabelecidas no JCPOA, o Plano Global de Ações Conjuntas, também conhecido como Acordo do Irã, um documento assinado em Viena, em julho de 2015, segundo o qual o país deveria reduzir seus estoques de urânio num programa de 15 anos, entre outras medidas preventivas.

Em teoria, as suspensões estabelecidas no Inplementation Day significam que uma série de atividades comerciais, anteriormente proibidas entre os Estados Unidos e o Irã, passarão a ser legítimas. Na prática, no entanto, diversos segmentos estão com os olhos voltados para o Irã, porém ainda em fase de avaliação se haverá de fato oportunidades no comércio com a segunda maior economia do Oriente Médio, o que inclui empresas de navegação e de energia.

Transição

Algumas agências afirmam que as sanções que ainda permanecem fazem com que a atividade marítima, incluindo projetos militares, não seja afetada por enquanto. Algumas ressalvas foram aplicadas às sanções em 18 de outubro de 2015, que já haviam liberado as sanções relacionadas a energia, gás natural, operações portuárias, navegação e estaleiros do Irã, bem como seguros e resseguros e transações significativas relacionadas ao governo e instituições financeiras iranianas, e títulos da dívida pública do país.

O mercado avalia que a NITC, companhia iraniana detentora da maior frota de petroleiros, ainda levará algum tempo para se reinserir no mercado, uma vez que ainda falta à empresa readequar-se nas exigências internacionais de seguros e outros serviços relacionados que não se limitem apenas às operações do próprio Irã. A empresa, no entanto, divulgou em nota oficial por meio da agência de notícias Mehr, que os navios serão certificados muito em breve, permitindo que se inicie o fluxo de cargas para os portos da União Europeia tão logo a documentação esteja pronta.

O mercado americano, no entanto, de acordo com o International Group, um dos principais clubes de P&I, diz que as autoridades americanas não abriram mão de certas proibições essenciais contra as empresas e representantes iranianos, como a manutenção de atividades com instituições financeiras, transações feitas com o dólar americano e a provisão por parte de seguradoras e resseguradoras dos Estados Unidos.

O efeito da manutenção dessas sanções será de grande impacto, declarou o P&I Club em carta a seus associados: os armadores não terão meios de estabelecer transações com entidades iranianas em dólar, e muitos bancos e instituições financeiras dependentes do mercado de juros americano também terão as suas negociações limitadas ou impedidas. O IG tem avisado as autoridades americanas, desde 2010, de que a liberação das sanções primárias ligadas a seguros e resseguros são cruciais para o grupo.

Preço do petróleo mundial

De acordo com a publicação da BreakBulk, a nova Agência Internacional de Energia divulgou relatório recentemente, indicando que os preços do petróleo tendem a despencar ainda mais em 2016, potencialmente ameaçando a viabilidade de qualquer novo projeto de exploração que tenha por base a indústria do transporte de granéis soltos. A edição de 2016 do relatório Oil Market Review da IEA diz ainda que os mercados enfraquecidos de dezembro, “causaram constante superoferta, empilharam estoques e disseminaram o pessimismo no noticiário econômico” relacionado aos preços do petróleo, o que resultou na queda do valor do barril para abaixo de 30 dólares, nos índices do ICE Brent e NYMEX WTI.

Neste relatório, ao contrário da comunicação da IG, a suspensão das sanções contra o Irã é destacada como chave para os preços do petróleo. Enquanto a revisão de longas restrições sobre o Irã deve oferecer um fôlego para os projetos de infraestrutura, a liberação do petróleo iraniano no mercado internacional ainda ameaça uma derrubada ainda maior nos valores cobrados pelo combustível. A estimativa da IEA é de que o Irã deverá acrescentar ao fluxo internacional cerca de 600.000 barris por dia, o que deve fazer os preços despencarem.

Brasil: reflexos

images (1) Enquanto o petróleo mundial cai para abaixo de US$ 30 por barril, os projetos brasileiros para extração do petróleo em alto mar e para a exploração do pré-sal, correm prejudicados, por ter operações caras e complexas. O cenário fica ainda pior com a refreada da produção da Petrobrás, diante das investigações administrativas sobre os processos de dívidas e corrupção.

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