Scania avança na descarbonização em parceria com Raízen

A Scania e a Raízen firmaram uma parceria que viabilizará o fornecimento de biometano para utilização na operação industrial da fabricante de veículos pesados em São Bernardo do Campo/SP a partir de 2024. O contrato estabelece o fornecimento médio de 7.800 metros cúbicos de biometano por dia, volume que representa 100% do consumo da fábrica da Scania.

A medida é uma das ações que a empresa sueca tem adotado para cumprir suas metas de descarbonização. “Vínhamos nos preparando para migrar para o biometano, fazendo testes e estudando maneiras para adquirir essa energia renovável de maneira estruturada. A abertura do mercado livre de gás nos possibilitou um novo modelo de negócio, fizemos uma consulta de mercado e depois de meses de negociações e aprendizados, finalmente fechamos esse acordo, que nos coloca em uma posição de pioneiros”, destaca Christopher Podgorski, Presidente e CEO da Scania Latin America.

Nos últimos anos a Raízen vem reforçando seu papel no mercado como uma empresa provedora de soluções de energia e renováveis e, com metas similares às da Scania, a companhia tem focado em apoiar clientes e parceiros na descarbonização e transição para uma matriz energética mais limpa. “Desde sua formação, a Raízen já evitou a emissão de 30 milhões de toneladas de CO2 e temos como objetivo ser um parceiro estratégico para ampliar o potencial e incentivar a jornada de descarbonização de nossos clientes, contribuindo para a construção de uma matriz cada vez mais limpa”, afirma Paula Kovarsky, Vice-Presidente de Estratégia e Sustentabilidade da Raízen.

O acordo entre as empresas é consistente com as metas climáticas de curto prazo assumidas pela Scania e aprovadas pela Science Based Targets initiative (SBTi) de reduzir em 50% a emissão de gases de efeito estufa de suas operações industriais e comerciais até 2025 (com base em 2015), considerando as emissões próprias (escopo 1) e as de energia adquirida (escopo 2); e reduzir em 20% as emissões de carbono equivalente na frota circulante (ônibus e caminhões produzidos pela empresa que rodam nas mãos de terceiros), com foco no escopo 3 (emissões indiretas).

“São metas desafiadoras que nos levam a inovar, investir em tecnologias e desenvolver soluções que ajudem outras empresas a também reduzirem suas emissões. Independentemente do quanto cresceremos, nossas ações giram em torno de eficiência energética, transição de combustíveis fósseis para renováveis e contratos de energia limpa”, explica Christopher Podgorski.

Substituto para o gás natural, diesel ou GLP, o gás natural renovável é produzido a partir do reaproveitamento de resíduos da cana-de-açúcar, com potencial para reduzir mais de 90% das emissões diretas de GEE (gases de efeito estufa) ao substituir combustíveis fósseis, sendo uma solução sustentável, capaz de acelerar a descarbonização de diversos setores de forma eficiente.

“Toda a nossa produção é baseada na economia circular. Utilizamos esse conceito como uma ferramenta para produzir cada vez mais utilizando a mesma área plantada de cana, garantindo assim a otimização e aproveitamento dos recursos naturais e contribuindo para um futuro mais sustentável”, comenta Raphaella Gomes, CEO da Raízen GEO Biogás, responsável pela produção do biometano.

No total, cinco operações da fábrica da Scania utilizam, atualmente, o gás natural: nos testes de caminhões a gás, na pintura de cabinas, no abastecimento de veículos industriais, na geração de vapor, nos restaurantes e na frota de veículos próprios da Logística da Scania.

“Focada nos compromissos de redução de emissão de poluentes, a empresa seguiu procurando, dentro de suas estruturas, onde estavam os maiores emissores e quais soluções poderiam ser incorporadas para avançarmos na transição. Identificamos que a maior emissão de CO2 nas operações industriais é relacionada ao uso do gás e o biometano se mostrou uma solução”, conta Debora Tanaka, gerente de projeto de sustentabilidade e coordenação de parcerias estratégicas da Scania Latin America, uma das responsáveis pela implementação do acordo.

O acordo entre as empresas vai permitir que a Scania adquira moléculas de biometano diretamente da Raízen e, da mesma forma que ocorre com o mercado livre de energia, utilizará um sistema de distribuição, neste caso, da Comgás, a quem a Raízen solicitará um estudo de viabilidade técnica e econômica. “Até então, comprava-se biometano com entrega física sobre rodas. Para os testes, utilizamos carretas de biometano comprimido nos pontos de abastecimento de nossas operações e conseguimos comprovar que o uso do biometano é 100% intercambiável com o gás natural, não altera em nada o desempenho dessas operações e ainda é 100% limpo”, conta Debora.

Para cumprir os desafios, a Scania estabeleceu seis Metas Ambientais Corporativas até 2025: energia elétrica livre de fósseis em 100% das operações até 2020 (meta atingida em 2016, quatro anos antes do objetivo inicial); redução de 50% das emissões de CO2 no fluxo logístico terrestre por tonelada transportada (meta atingida em 2021); reduzir 25% o uso de energia nas operações industriais; reduzir 50% a geração de resíduos não reciclados por unidade produzida (ou 25% em valores absolutos); reduzir 40% no uso de água por unidade produzida; e reduzir 75% das emissões de CO2 das operações industriais de escopo 1 e 2.

“O uso de gás natural nas nossas operações representará em torno de 60% das emissões totais de 2022. Com a substituição por biometano, somada às demais iniciativas, conseguiremos atingir os objetivos estabelecidos de redução de emissões de CO2 até 2025 para os escopos 1 e 2. Trata-se, portanto, de mais um objetivo que iremos superar”, revela Christopher Podgorski.

Biometano: o “pré-sal caipira” - Ainda pouco disseminado no Brasil, o biometano é um combustível renovável derivado do refinamento e processamento do biogás – composto pelos gases metano (entre 50% e 70%) e dióxido de carbono (30% a 50%), produzido a partir de resíduos orgânicos decompostos por bactérias em biodigestores. Obtido a partir de um processo de purificação, com a retirada de gás sulfídrico, dióxido de carbono e umidade (vapor de água) do biogás, o biometano tem a mesma especificação do gás natural e poder de combustão maior que o biogás.

Biocombustível com comportamento semelhante ao GNV (gás natural), o biometano pode ser utilizado em substituição aos combustíveis fósseis. Ele é, inclusive, uma das soluções no mix de tecnologias já desenvolvidas ou em desenvolvimento identificado pelo estudo “Transporte comercial net-zero 2050: caminhos para a descarbonização do modal Rodoviário no Brasil” – realizado pela Scania em parceria com a Rede Brasil do Pacto Global e a Bain & Company – capazes de zerar as emissões de caminhões e ônibus no Brasil até 2050.

Entre as soluções indicadas pelo estudo – biometano, diesel renovável (HVO), veículo elétrico a bateria (BEV) e células de combustível de hidrogênio (FCEV) – o biometano é o que está em processo mais avançado no Brasil, já regulamentado e com grande potencial de produção no país. “A tecnologia já existe e o Brasil tem potencial de biomassa e biogás gigantesco, o maior do mundo. É preciso ampliar o desenvolvimento de infraestrutura e investimentos em estudos, aplicações e apropriação dessa solução incrível que é o biometano, nosso ‘pré-sal caipira’”, destaca Podgorski.

Segundo a Associação Brasileira do Biogás (ABiogás), o potencial de produção do Brasil é de 44,1 bilhões de Nm3 anuais a partir de quatro setores econômicos: sucroenergético, produção agrícola, proteína animal e saneamento. No entanto, apenas 2% são utilizados, representando menos de 0,01% da matriz energética do Brasil – o país desperdiça 100 milhões de m³ de metano renovável por dia, que equivalem a 35% da energia elétrica consumida no Brasil e 70% do diesel. O termo ‘pré-sal caipira’ é utilizado para qualificar o potencial do aproveitamento de resíduos da agropecuária para a produção de biometano, que teria escala semelhante à de um poço de petróleo do pré-sal.

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